Há algo na chegada do outono que nos faz parar. É como se a própria vida sussurrasse: “Agora é hora de olhares para dentro.”
Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.
Carlos Drummond de Andrade
Hoje, às 18:19, o outono chega oficialmente. E com ele, aquele convite silencioso que conheces bem – para abrandares o ritmo, para deixares que a reflexão tome o lugar da pressa, para permitires que a tua alma finalmente respire.
Porque o outono não é só uma mudança no calendário. É uma mudança dentro de ti.
Observa a natureza nestes dias. As árvores não resistem quando é hora de soltar as folhas. Não se agarram ao verde do verão nem lutam contra o dourado que está a chegar. Simplesmente… deixam ir.
E se fizesses o mesmo?
O outono chega como um professor paciente, a mostrar-te que há uma beleza imensa em deixar cair o que já não precisa de estar na tua vida. Aquelas crenças sobre ti mesma que te limitam, aqueles padrões que se repetem sem te levarem a lado nenhum, aquelas emoções que carregas há tanto tempo que já nem te lembras porquê.
É tempo de colheita, sim. Mas também é tempo de limpeza.
O Que Semeaste, Agora Podes Colher
Durante todo o ano plantaste sementes – algumas conscientes, outras nem por isso. Puseste energia em projetos, em relações, em sonhos, em versões de ti mesma que querias experimentar.
Agora é altura de veres o que cresceu.
Mas aqui está a coisa mais linda sobre a colheita do outono: não é só sobre os frutos que conseguiste apanhar. É sobre reconheceres o esforço que puseste, a coragem que tiveste para plantar, a persistência que mantiveste mesmo quando não vias resultados.
Às vezes a verdadeira colheita não é o que esperávamos receber. É o que nos tornámos no processo de tentar.
O outono sussurra-te uma palavra que pode mudar completamente a forma como vês a tua vida: gratidão.
Não aquela gratidão forçada que te obrigas a sentir quando achas que devias estar mais feliz. A gratidão real, que nasce quando consegues olhar para o ano que passou e perceber que, mesmo com as dificuldades, mesmo com as desilusões, houve crescimento.
Houve aprendizagem. Houve vida. E isso, por si só, já é um milagre.
Se há uma lição que o outono nos ensina é esta: para nascer de novo, primeiro tens de deixar morrer o que já foi.
As folhas que caem não são um erro da natureza. São uma necessidade. Porque se a árvore se agarrasse às folhas do ano passado, não teria energia para criar as novas.
O mesmo acontece contigo.
Aquela versão de ti que já não faz sentido? Podes deixá-la ir com amor. Aqueles medos que te protegeram no passado mas agora te limitam? Podes agradecê-los e soltá-los. Aquelas relações que foram importantes mas já cumpriram o seu papel? Podes honrá-las e permitir que se transformem ou se afastem.
Não é abandono. É evolução.
O Convite agora é para dentro…
Com os dias mais curtos e as noites mais longas, o outono convida-te naturalmente ao recolhimento. É como se a própria luz te dissesse: “Não precisas de estar sempre em movimento. Não precisas de estar sempre produtiva. É okay parar e simplesmente ser.”
Este é o momento perfeito para:
Reflectires sobre o que realmente importa na tua vida Criares espaço para o silêncio e a contemplação Perguntares-te que hábitos te aproximam da serenidade Encontrares o equilíbrio entre dar e receber, entre agir e descansar
A introspeção não é uma perda de tempo. É um investimento na tua sanidade mental.
Talvez já tenhas sentido – aquela vontade súbita de reorganizar a casa, de mudar algo na decoração, de criar rituais pequenos mas significativos. É a energia do outono a trabalhar através de ti.
Podes honrar este convite de formas simples:
Acendendo uma vela ao fim do dia e respirando conscientemente Criando um espaço especial com elementos da natureza – folhas, castanhas, pequenos ramos Escrevendo sobre o que queres deixar para trás e o que queres levar contigo Fazendo caminhadas contemplativas e observando as mudanças na paisagem
Não precisas de rituais elaborados. Precisas de intenção.
Vivemos numa sociedade que nos ensina a ser lineares – sempre em frente, sempre a crescer, sempre a produzir. Mas tu és um ser cíclico, como a natureza.
Há tempos para florescer e tempos para recolher. Há tempos para semear e tempos para colher. Há tempos para expandir e tempos para contrair.
O outono lembra-te de que não tens de estar sempre no teu máximo. Que é natural passares por fases de maior introspecção, de menor produtividade externa, de maior necessidade de recolhimento.
E isso não é falha. É sabedoria.
Por trás de toda esta conversa sobre soltar e recolher, há uma promessa linda escondida no outono: a garantia de que sempre há um novo começo à tua espera.
As árvores que agora soltam as folhas vão, daqui a alguns meses, voltar a florescer. Com mais força, mais beleza, mais vida.
O mesmo vai acontecer contigo.
O que soltares agora, com consciência e gratidão, vai criar o espaço necessário para a tua próxima versão emergir.
O outono chegou. E contigo, a oportunidade de viveres mais devagar, mais conscientemente, mais alinhada com os ritmos naturais da tua alma.
Permite-te ser cíclica. Permite-te recolher. Permite-te soltar.
A tua alma vai agradecer-te.
Com amor em 50 tons de castanho,
Bé ♡